Limite
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Em matemática, o conceito de limite é usado para descrever o comportamento de uma função à medida que o seu argumento se aproxima de um determinado valor, assim como o comportamento de uma sequência de números reais, à medida que o índice (da sequência) vai crescendo, i.e. tende para infinito. Os limites são usados no cálculo diferencial e em outros ramos da análise matemática para definir derivadas e a continuidade de funções.
Índice
1 Limite de uma sequência
2 Limite de uma função
2.1 Exemplos
2.2 Definição formal
2.3Exemplos de provas de limites
A=limx→af(x)⇔∀ε>0,∃δ>0,∀x∈I;0<|x−a|<δ⇒|f(x)−A|<ε.{displaystyle A=lim _{xto a}f(x)Leftrightarrow forall varepsilon >0,exists delta >0,forall xin I;0<|x-a|<delta Rightarrow |f(x)-A|<varepsilon .}
2.3.1 Exemplo 1
2.3.2 limx→2(3x+1)=7{displaystyle lim _{xrightarrow 2}(3x+1)=7}
2.3.3 Exemplo 2
2.4 Aproximação intuitiva
3 Limites em funções de duas ou mais variáveis
3.1 Exemplo
4 Referências
5 Ver também
Limite de uma sequência |
Ver artigo principal: Limite de uma sequência
Seja x1,x2,…{displaystyle x_{1},x_{2},ldots } uma sequência de números reais. A expressão:
significa que, para índices i{textstyle i} suficientemente grandes, os termos xi{textstyle x_{i}} da sequência estão arbitrariamente próximos do valor L.{textstyle L.} Neste caso, dizemos que o limite da sequência é L.{textstyle L.}
A forma usual de escrever isso, em termos matemáticos, pode ser interpretada como um desafio. O desafiante propõe quão perto de L{textstyle L} os termos da sequência devem chegar, e o desafiado deve mostrar que, a partir de um certo índice i{textstyle i}, os demais termos da sequência estão tão ou mais perto de L{textstyle L} quanto solicitado.
Ou seja, qualquer que seja o intervalo em torno de L{textstyle L} (dado pelo desafiante), por exemplo, o intervalo aberto (L−ϵ,L+ϵ){textstyle (L-epsilon ,L+epsilon )} com ϵ>0{textstyle epsilon >0}, o desafiado deve exibir um número natural N{displaystyle N} tal que ∀i{textstyle forall i} com i>N{textstyle i>N} tem-se que xi∈(L−ϵ,L+ϵ){textstyle x_{i}in (L-epsilon ,L+epsilon )}.
Formalmente, o que foi dito acima se expressa assim[1]:
Limite de uma função |
Ver artigo principal: Limite de uma função
Suponhamos que f(x){textstyle f(x)} é uma função real e que c{textstyle c} é um número real. A expressão:
significa que f(x){textstyle f(x)} se aproxima tanto de L{textstyle L} quanto quisermos, quando se toma x{textstyle x} suficientemente próximo de c{textstyle c}[2][3]. Quando tal acontece dizemos que o limite de f(x){textstyle f(x)}, à medida que x{textstyle x} se aproxima de c{textstyle c}, é L{textstyle L}.
Note-se que esta definição não exige (ou implica) que f(c)=L{textstyle f(c)=L}, nem sequer que f(x){textstyle f(x)} esteja definida em c{textstyle c}. Agora, no caso de f(c){textstyle f(c)} existir (estar definido) e
diz-se que f(x){textstyle f(x)} é contínua no ponto c{textstyle c}.
Exemplos |
Consideremos
à medida que x{textstyle x} se aproxima de 2{textstyle 2}, i.e busquemos calcular
Neste caso, f(x){textstyle f(x)} está definida em 2{textstyle 2} e é igual ao seu limite: 0,4,{textstyle 0,!4,} vejamos:
f(1.9) | f(1.99) | f(1.999) | f(2) | f(2.001) | f(2.01) | f(2.1) |
0.4121 | 0.4012 | 0.4001 | →{displaystyle rightarrow } 0.4 ←{displaystyle leftarrow } | 0.3998 | 0.3988 | 0.3882 |
À medida que x{textstyle x} aproxima-se de 2{textstyle 2}, f(x){textstyle f(x)} aproxima-se de 0,4{textstyle 0,!4} e consequentemente temos
Ou seja, f(x){textstyle f(x)} é contínua no ponto 2{textstyle 2}.
Vejamos, agora, o seguinte exemplo de uma função não contínua (descontínua):
O limite de g(x){textstyle g(x)} à medida que x{textstyle x} se aproxima de 2{textstyle 2} é 0,4{textstyle 0,!4} (tal como no exemplo acima), mas
e consequentemente g(x){textstyle g(x)} não é contínua em x=2{textstyle x=2}.
Consideremos, agora, mais o seguinte exemplo de uma função descontínua:
Apesar de h(x){textstyle h(x)} não estar definida em x=1{textstyle x=1}, pode-se demonstrar (por exemplo, via regra de l'Hôpital) que
h(0.9) | h(0.99) | h(0.999) | h(1.0) | h(1.001) | h(1.01) | h(1.1) |
1.95 | 1.99 | 1.999 | →{displaystyle rightarrow } não está definido ←{displaystyle leftarrow } | 2.001 | 2.010 | 2.10 |
Observa-se que x{textstyle x} pode ser tomado tão próximo de 1{textstyle 1} quanto quisermos, sem no entanto ser igual a1{textstyle 1}, donde infere-se que o limite de f(x){textstyle f(x)} é 2{textstyle 2}.[3]
Definição formal |
Sejam I⊂R{displaystyle Isubset mathbb {R} } um intervalo de números reais, a∈I{displaystyle ain I} e f:I−{a}→R{displaystyle f:I-{a}to mathbb {R} } uma função real definida em I−{a}.{displaystyle I-{a}.} Escrevemos
quando para qualquer que seja ε>0{displaystyle varepsilon >0} existe um δ>0{displaystyle delta >0} tal que para todo x∈I,{displaystyle xin I,} satisfazendo 0<|x−a|<δ,{displaystyle 0<|x-a|<delta ,} vale |f(x)−A|<ε{displaystyle |f(x)-A|<varepsilon }[1]. Ou, usando a notação simbólica:
A=limx→af(x)⇔∀ε>0,∃δ>0,∀x∈I;0<|x−a|<δ⇒|f(x)−A|<ε.{displaystyle A=lim _{xto a}f(x)Leftrightarrow forall varepsilon >0,exists delta >0,forall xin I;0<|x-a|<delta Rightarrow |f(x)-A|<varepsilon .}
Exemplos de provas de limites |
Exemplo 1 |
limx→2(3x+1)=7{displaystyle lim _{xrightarrow 2}(3x+1)=7} |
Supondo um ϵ>0{displaystyle epsilon >0}
|(3x+1)−7|<ϵ{displaystyle |(3x+1)-7|<epsilon }
|3x−6|<ϵ{displaystyle |3x-6|<epsilon }
Dividindo por 3 em ambos os lados:
|x−2|<ϵ3{displaystyle |x-2|<{frac {epsilon }{3}}}
O que prova o limite com δ=ϵ3>0{displaystyle delta ={frac {epsilon }{3}}>0}
Exemplo 2 |
limx→1(1+x)=2{displaystyle lim _{xrightarrow 1}(1+x)=2}
Supondo um ϵ>0{displaystyle epsilon >0}
|1+x−2|>ϵ{displaystyle |1+x-2|>epsilon }
|x−1|>ϵ{displaystyle |x-1|>epsilon }
E isso completa a prova com δ=ϵ>0{displaystyle delta =epsilon >0}
Aproximação intuitiva |
A noção de limite é fundamental no início do estudo de cálculo diferencial. O conceito de limite pode ser aprendido de forma intuitiva, pelo menos parcialmente.
Quando falamos do processo limite, falamos de uma incógnita que "tende" a ser um determinado número, ou seja, no limite, esta incógnita nunca vai ser o número, mas vai se aproximar muito, de tal maneira que não se consiga estabelecer uma distância que vai separar o número da incógnita. Em poucas palavras, um limite é um número para o qual y = f(x) difere arbitrariamente muito pouco quando o valor de x difere de x0 arbitrariamente muito pouco também.
Por exemplo, imaginemos a função: f(x)=2x+1{displaystyle f(x)=2x+1} e imaginando f:R→R{displaystyle f:mathbb {R} to mathbb {R} } (Definida nos reais). Sabemos, lógico, que esta função nos dá o gráfico de uma reta, que não passa pela origem, pois se substituirmos:
f(0)=2.0+1{displaystyle f(0)=2.0+1} que nos dá: f(0)=0+1=1,{displaystyle f(0)=0+1=1,} ou seja, no ponto onde x=0 (origem), o y (f(x)) é diferente de zero. Mas usando valores que se aproximem de 1, por exemplo:
- Se x=0,98 então: y=f(x)=2,96
- Se x=0,998 então: y=f(x)=2,996
- Se x=0,9998 então: y=f(x)=2,9996
- Se x=0,99999 então: y=f(x)=2,99998
Ou seja, à medida que x "tende" a ser 1, o y "tende" a ser 3. Então no processo limite, quando tende a ser um número, esta variável aproxima-se tanto do número, de tal forma que podemos escrever como no seguinte exemplo:
Exemplo 1.1: Sendo uma função f definida por: f(x)=2x+1{displaystyle f(x)=2x+1} nos reais, calcular o limite da função f{displaystyle f} quando x→1.{displaystyle xto 1.}
Temos então, neste caso, a função descrita no enunciado e queremos saber o limite desta função quando o "x" tende a ser 1:
Ou seja, para a resolução fazemos:
Então, no limite é como se pudéssemos substituir o valor de x para resolvermos o problema. Na verdade, não estamos substituindo o valor, porque para o cálculo não importa o que acontece no ponto x, mas sim o que acontece em torno deste ponto. Por isso, quando falamos que um número "tende" a ser n, por exemplo, o número nunca vai ser n, mas se aproxima muito do número n. Enfim, como foi dito anteriormente, a definição de limite é tão e somente intuitiva. Vai de analisar a função que está ocorrendo apenas. Agora, o exercício do Exemplo 1.1 mostra que x se aproxima de 1 pela esquerda, ou seja:
Porém, temos também uma outra forma de se aproximar do número 3, na função f(x){displaystyle f(x)} descrita nos exemplo acima, por exemplo:
Se x=2, y=f(x)=5 ; Se x=1,8 então: y=f(x)=4,6 ; Se x=1,2 temos que: y=f(x)=3,4 ; Se x=1,111 então: y=f(x)=3,222
Podemos perceber então, que x está tendendo a 1 pela direita agora, e não mais pela esquerda como foi mostrado no exemplo anterior. Então para resolvermos problemas que envolvem cálculo, devemos saber como a função que está em jogo se comporta.
Limites em funções de duas ou mais variáveis |
A noção de limite, conquanto seja a mesma para todos os tipos de funções numéricas, nem sempre é fácil de se calcular. Muitas vezes é mesmo difícil de se afirmar que o limite exista ou não. A função distância entre os objectos da função, na definição formal anteriormente apresentada para uma variável, dada por |x−a|,{displaystyle |x-a|,} não pode ser utilizada. Neste contexto, surge a necessidade de uma função distância. Nesse caso, a definição de limite é a seguinte[4]:
Seja f{displaystyle f} uma função do tipo:
Em que x{displaystyle x} é um vector com n{displaystyle n} coordenadas e z{displaystyle z} um número real. Se a{displaystyle a} for um vector com n{displaystyle n} coordenadas, então:
Em que d(x,a)=‖x−a‖{displaystyle d(x,a)=|x-a|} é a função distância.
Exemplo |
Uma função do tipo:
pode ter evidentemente um limite, mas aqui há uma diferença fundamental.
Sobre a reta real, só existe verdadeiramente um grau de liberdade, ou seja, só se pode ir para a direita (no sentido de maiores números reais) ou para a esquerda (no sentido de menores números reais).
Com uma função de duas variáveis (só para ficar no caso mais simples) tem-se dois graus de liberdade. Consequentemente, pode-se ter infinitos caminhos entre dois pontos, o que na verdade influencia o valor do limite.
Ora, para que exista um valor de limite, é necessário que ele seja independente do caminho tomado para que o(s) valor(es) da(s) variável(eis) independentes sejam alcançados. Isso é verdade no caso unidimensional, quando os dois limites laterais coincidem. Caso contrário, o limite não existe.
De forma semelhante, quando se tem uma função bidimensional como:
o limite pode ser testado através de vários caminhos.
Suponha que se queira verificar o seguinte limite L desta função:
Pode-se aproximar-se do valor (0,0) através das seguintes possibilidades (de entre uma infinidade delas):
- o limite através do eixo dos yy,{displaystyle yy,} ou seja,
Nesse caso o limite L é zero.
- o limite através do eixo dos xx,{displaystyle xx,} ou seja,
Nesse caso, o limite L é também zero.
Poder-se-ia ficar enumerando todas as possibilidades, mas seria ocioso. No caso dessa função, o limite nesse ponto é sempre zero, conforme demonstraremos.
Vamos, então, provar que
Ou seja, provar que
Vamos procurar escrever δ{displaystyle delta } em função de ϵ.{displaystyle epsilon .}
Se escolhermos δ=ϵ,{displaystyle delta ={sqrt {epsilon }},} então, pela segunda desigualdade, |xy|<δ2=ϵ,{displaystyle |xy|<delta ^{2}=epsilon ,} o que prova o nosso limite.
Um exemplo de uma função que não apresenta valor de limite em (0,0) é a função:
que pode ser provado fazendo-se a aproximação do ponto (0,0) através das parametrizações dadas pelas equações paramétricas:
a função toma a forma
Vê-se, então, que o valor do limite depende do ângulo α pelo qual a reta de parametrização permite que se aproxime do ponto (0,0). Dessa forma, o limite não existe nesse ponto para essa função.
Referências
↑ ab Lima, Elon Lages (2013). Curso de Análise Vol.1 14 ed. [S.l.]: IMPA. ISBN 9788524401183
↑ Anton, Howard (2007). Cálculo - Volume 1 8 ed. [S.l.]: Bookman. ISBN 9788560031634
↑ ab Stewart, James. Cálculo vol. I. ISBN 978-85-221-0660-8. Ed. Cengage, 2009, pg. 98.
↑ STEWART, James. Cálculo, volume 2. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2007. 5ª edição. ISBN 85-211-0484-0. Página 900.
Ver também |
- Limite de uma função
- Lista de limites
- Função contínua