Muiraquitã
Muiraquitãs ou muyrakytãs (do tupi) são artefatos talhados em pedra, usualmente jade, representando animais (especialmente sapos, mas também tartarugas ou serpentes). Teriam sido usados pelos povos indígenas Tapajós e Konduri, que habitavam o Baixo Amazonas até a chegada do colonizador europeu, como amuletos, símbolos de poder, e ainda como material para compra e troca de objetos valiosos. Há muitas lendas e mitos sobre eles, sempre envolvidos com as índias Amazonas, extintas ou lendárias.[1]
Índice
1 Etimologia
2 Histórico
3 Lendas
3.1 Segundo as índias Icamiabas
3.2 Segundo os índios Uaupés
4 Literatura
5 Games
6 Referências
7 Bibliografia
Etimologia |
O termo pode ter origem do tupi pu'ir-a(w)ki-(i)tã ou mu'ir-a(w)ki-(i)tã (pu'ir ou mu'ir = "missangas", "contas", "enfeites", etc; a(w)ki = "mexer", "usar", "tocar"; itã = espécie de sapo ou rã).[1] Outros autores interpretam a etimologia a partir de mbïraki'tã como "nó das árvores", "nó das madeiras" (de muyrá ou mbyra = "árvore", "pau", "madeira"; quitã, "nó", "verruga", "objeto de forma arredondada".[2]
Também são conhecidas as grafias ybyrakytã[3] (em tupi), mirakitã (em nheengatu),[4] baraquitãs, buraquitãs, puúraquitan, uuraquitan e mueraquitan (provavelmente formas aportuguesadas).[1] Outros termos também usados para o artefato são "pedra-das-amazonas" e "pedra-verde".[carece de fontes]
Histórico |
As primeiras documentações sobre os muiraquitãs, ainda que indiretas, surgem com Orellana, que entre 1540 e 1542 desceu o rio Amazonas em toda sua extensão. Embora não mencione o objeto, através de Frei Gaspar de Carvajal, seu cronista, relata ter encontrado índias guerreiras, sem maridos, por ele denominadas Amazonas, mas chamadas pelos índios de Icamiabas, as quais possuem lendas relacionadas ao artefato.[1]
Em sua viagem ao longo deste rio, em 1735, La Condamine escreve sobre amuletos batraquianos em pedras verdes semelhantes a jade.[1]
Spix e Martius, entre 1817 e 1820, relatam pierres divines ("pedras divinas") na forma de pingente e batraquianos em madrepérola e com o nome de "muraquêitã".[1]
Uma questão importante, surgida no século XVIII e ainda discutida, é sobre a origem do jade utilizado na confecção dos muiraquitãs. Alguns autores cogitaram que o material teria vindo da Ásia, hipótese hoje descartada.[1]
Lendas |
Segundo as índias Icamiabas |
As índias Icamiabas, ou Amazonas de Orellana, eram mulheres guerreiras, sem maridos, que habitavam o Baixo Amazonas. Uma vez ao ano, nas fontes do rio Nhamundá, na serra Yacy-taperê (serra da lua), onde havia um lago, Yacy-uaruá (espelho da lua), faziam uma festa em nome de Iacinará ou Iaci, a lua. Após dormirem com os Guacaris, homens de outra tribo especialmente convidados para a festividade, as índias mergulhavam no lago e traziam um barro esverdeado com o qual modelavam muiraquitãs, que eram oferecidos como amuletos aos guacaris.[1]
Segundo os índios Uaupés |
No rio Uaupés, havia um lago onde morava uma anciã, a mãe do muiraquitã. Certa manhã, ela se transformou numa serpente, e foi morta por um homem. O rio imediatamente inundou, afogando toda a tribo, restando apenas a marca da anciã, o muiraquitã.[1]
Literatura |
A trama de Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, importante marco do modernismo brasileiro, gira entorno do resgate de um muiraquitã.[5] Entre 1993 e 1994, circulou no Brasil a cédula de 500 mil cruzeiros com tema dedicado ao autor, a qual continha a figura do artefato.[6]
Em As Aventuras de Benjamim: o Muiraquitã (2004),[7] livro de literatura infanto-juvenil, o personagem Benjamim usam um muiraquitã (um fruto de guaraná) que concede desejos para encontrar seu pai perdido, e depois encontra uma Iara que distribui pedras de jade no formato de bichos para índias. Ao receber um muiraquitã, Benjamim se transforma em um guerreiro.[carece de fontes]
Games |
No jogo eletrônico brasileiro Aritana e a Pena da Harpia do estúdio Duaik, baseado na mitologia indígena brasileira, os muiraquitãs são itens coletáveis que concedem acesso às fases bônus do jogo.[8]
Referências
↑ abcdefghi Costa, Marcondes Lima da; Silva, Anna Cristina Resque Lopes da; Angélica, Rômulo Simões (2002). «Muyrakytã ou muiraquitã, um talismã arqueológico em jade procedente da Amazônia: uma revisão histórica e considerações antropogeológicas». Acta Amazonica. 32 (3): 467–490. ISSN 1809-4392. doi:10.1590/1809-43922002323490. Consultado em 25 de julho de 2015
↑
Houaiss, Antônio & Villar, Mauro de Salles. Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Entrada "muiraquitã".
↑ Navarro, Eduardo de Almeida (2013). Dicionário Tupi Antigo: A língua indígena clássica do Brasil. São Paulo: Global Editora. ISBN 978-85-260-1933-1
↑ Stradelli, Ermano (1929). Vocabularios da lingua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em lingua geral nheêngatú poranduua (PDF). 158. Entrada "Myrakytan", p. 569. Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Consultado em 29 de outubro de 2015
↑ Andrade, M. de. Macunaíma, 1928. Disponível em: [1].
↑ Associação Amigos do Museu de Valores do Banco Central. Mário de Andrade - 500 Mil Cruzeiros - Iconografia de uma cédula, 2013. Disponível em: [2].
↑ Franco, Camila; Catunda, Marcela; Franco, Blantina. As Aventuras de Benjamim: o Muiraquitã. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2004.
↑ Duaik (estúdio). Aritana and the Harpy's Feather, 2014. Disponível em [3].
Bibliografia |
- Associação Brasileira dos Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Populares. Estatuetas, [4]. Muiraquitã, [5].
Meirelles, Anna Cristina Resque (2011). Muiraquitã e contas do Tapajós no imaginário indígena: uma análise químico - mineralógica dos artefatos dos povos pré - históricos da Amazônia (PDF) (Tese de de Doutorado em Geoquímica e Petrologia). Belém: Universidade Federal do Pará. 102 páginas. Consultado em 28 de julho de 2015
Resque Meirelles, Anna Cristina; Costa, Marcondes Lima da (2012). «Mineralogy and chemistry of the green stone artifacts (muiraquitãs) of the museums of the Brazilian State of Pará». Rem: Revista Escola de Minas. 65 (1): 59-64. ISSN 0370-4467. doi:10.1590/S0370-44672012000100008. Consultado em 28 de julho de 2015
Torres, M. (2007). «A pedra muiraquitã: O caso do rio Uruará no enfrentamento dos povos da floresta às madeireiras na Amazônia» (PDF). Revista de Direito Agrário. 20 (21): 89-119. Consultado em 28 de julho de 2015