Santo
Nota: Para outros significados, veja Santo (desambiguação).
Santo (do termo latino sanctu, "estabelecido segundo a lei", "que se tornou sagrado") é tudo aquilo que é sagrado, ou seja, que está conforme os preceitos religiosos e a divindade.
Para o cristianismo católico, "santo" é todo aquele que já está no céu, junto de Deus, aguardando a parúsia (segunda vinda de Cristo). Aqueles que a Igreja Católica reconhece como santos, através da canonização,[1] são as pessoas que desempenharam uma obra admirável, ou cuja vida serve de testemunho aos demais católicos. Na Igreja Ortodoxa e na Igreja Anglicana, pessoas reconhecidas por virtudes especiais podem receber, também, o título de Santo, porém a Igreja Católica foi a que mais gerou santos na sua História. Esse título denota que, além de grande caráter, a pessoa está na graça de Deus (no Céu), mas a falta desse reconhecimento formal não significa necessariamente que o indivíduo não seja um santo. Aqueles santos que não possuem o reconhecimento formal da Igreja Católica recebem o título de Santos Anônimos. Para celebrar a honra desses santos, foi instituído o Dia de Todos-os-Santos pelo Papa Gregório III.
Índice
1 Etimologia
2 Santos no Catolicismo e na Igreja Ortodoxa
2.1 Procedimento
2.2 Colégio de Postuladores
3 No Protestantismo
4 No Judaísmo
5 No Islã
6 Uso de "Santo" e "São"
7 Referências
8 Ver também
9 Ligações externas
Etimologia |
Os romanos cultuavam um deus antiquíssimo, Sancus, que não deixava violar as promessas e juramentos, mandando cumpri-las. Daí vem o verbo sancire, “consagrar”. Sanctus, “santo, consagrado, o qual tem que, sobretudo, ser tratado com respeito” é o particípio passado do verbo supracitado, gerando assim o termo santo.[2]
Santos no Catolicismo e na Igreja Ortodoxa |
Igreja Católica |
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Na Igreja Católica e na Igreja Ortodoxa, algumas pessoas são, oficialmente, reconhecidas como santos. Elas são vistas como tendo feito algo de extraordinário ou tendo uma especial proximidade com Deus. A veneração dos santos, em latim cultus, ou o culto dos santos, descreve uma especial devoção aos santos populares. Embora o termo "culto" seja, frequentemente, utilizado, significa apenas prestar honra ou respeito (Dulia). O Culto Divino está devidamente reservado apenas para Deus (latria).
Na doutrina católica, uma vez que Deus é o Deus da Vida, os santos estariam vivos no céu, podendo por isso interceder ou orar junto a Deus por aqueles que estão ainda na terra. A Igreja Católica baseia sua crença no dogma da comunhão dos santos e na passagem bíblica "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações e intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens" (Primeira Epístola a Timóteo, capítulo 2, versículo 1).
Um santo pode ser designado como um santo padroeiro de causas específicas ou profissões, ou invocado contra doenças específicas ou catástrofes, mas isso é somente pensamento popular, não sendo uma doutrina oficial da Igreja. Os santos não têm poderes próprios, mas apenas que os concedidos por Deus. Relíquias de santos são respeitados e muitas vezes preservadas em igrejas.
O processo de reconhecimento oficial de um santo é chamado, na Igreja Católica, de canonização. Isto só pode ter lugar após a sua morte uma vez que, segundo os princípios do Catolicismo Romano, mesmo a mais santa pessoa viva pode cair em pecado mortal até o último momento. Na Igreja Ortodoxa, é mais no sentido de evitar a pressa e permitir um amplo tempo de reflexão sobre a vida da pessoa.
"A Igreja Católica sempre acreditou que, desde os primeiros tempos do cristianismo, os Apóstolos e os Mártires em Cristo estão unidos a nós mais estreitamente, venerou-os particularmente juntamente com a bem-aventurada Virgem Maria e os Santos Anjos, e implorou devotamente o auxílio da sua intercessão. A eles se uniram também outros que imitaram mais de perto a virgindade e a pobreza de Cristo e além disso aqueles cujo preclaro exercício das virtudes cristãs e dos carismas divinos suscitaram a devoção e a imitação dos fiéis. (...) A Sé Apostólica (...) propõe homens e mulheres que sobressaem pelo fulgor da caridade e de outras virtudes evangélicas para que sejam venerados e invocados, declarando-os Santos e Santas em ato solene de canonização, depois de ter realizado as oportunas investigações." (João Paulo II, Const. Apost. Divinus perfectionis Magister).
Segundo Bento XVI, a santidade é uma tarefa que não é exclusiva apenas dos cristãos, mas de todo ser humano. Recordou que nos primórdios do cristianismo os cristãos eram chamados de "os santos". Com efeito, afirmou que "o cristão já é santo, porque o Batismo o une a Jesus e a seu Mistério Pascal, mas, ao mesmo tempo, deve chegar a sê-lo identificando-se com Ele mais intimamente. Às vezes, costuma-se pensar que a santidade é uma condição de privilégio reservado a uns poucos escolhidos. Na realidade, ser santo é tarefa de todo cristão, de todo homem. Segundo a epístola de São Paulo aos Efésios: "Deus sempre nos abençoou e nos escolheu em Cristo para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença, no amor". Todos os seres humanos são, portanto, chamados à santidade. Em última instância, a santidade consiste em viver como filhos de Deus, na "semelhança" com Ele, segundo a qual foram criados. Todos os seres humanos são filhos de Deus e todos devem chegar a ser aquilo que são, mediante o exigente caminho da liberdade." (Bento XVI, por ocasião da Solenidade de Todos os Santos de 2007)
Em conclusão, a santidade é uma vocação única e universal do Homem e consiste na "plenitude da vida cristã e [na] perfeição da caridade" [3].
Procedimento |
Ver artigo principal: Canonização
No catolicismo , o caminho para uma pessoa ser canonizada é regulado pela Constituição Apostólica Divinus perfectionis Magister, de 25 de janeiro de 1983, e pelas Normae da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, de 7 de fevereiro de 1983. Em 18 de fevereiro de 2008 a Santa Sé torna público a instrução "Sanctorum Mater" da Congregação para a Causa dos Santos sobre as normas que regulam o início das causas de beatificação juntamente com o "Index ac status causarum".
Segundo aquelas normas, ao bispo diocesano ou autoridade da hierarquia a ele equiparada, de iniciativa própria ou a pedido de fiéis, é a quem compete investigar sobre a vida, virtudes ou martírio e fama de santidade e milagres atribuídos e, se considerar necessário, a antiguidade do culto da pessoa cuja canonização é pedida. Nesta fase, a pessoa investigada recebe o tratamento de "Servo de Deus" se é admitido o início do processo.
Haverá um postulador que deverá recolher informações pormenorizadas sobre a vida do Servo de Deus e informar-se sobre as razões que pareceriam favorecer a promoção da causa da canonização. Os escritos que tenham sido publicados devem ser examinados por teólogos censores; nada havendo neles contra a fé e aos bons costumes, passa-se ao exame dos escritos inéditos e de todos os documentos que de alguma forma se refiram à causa. Se, ainda assim, o bispo considerar que se pode ir em frente, providenciará o interrogatório das testemunhas apresentadas pelo postulador e de outras que achar necessário.
Em separado, se faz o exame do eventual martírio e o das virtudes, que o servo de Deus deverá ter praticado em grau heroico (fé, esperança e caridade; prudência, temperança, justiça, fortaleza e outras) e o exame dos milagres a ele atribuídos. Concluídos estes trabalhos, tudo é enviado a Roma para a Sagrada Congregação da Causa dos Santos.
Para tratar das causas dos santos existem, na Congregação para a Causa dos Santos, consultores procedentes de diversas nações, uns peritos em história e outros em teologia, sobretudo espiritual, há também um Conselho de médicos. Reconhecida a prática das virtudes em grau heroico o decreto que o faz declara o Servo de Deus "Venerável".
Havendo apresentação de milagre, este é examinado numa reunião de peritos e, se se trata de curas pelo Conselho de médicos, depois é submetido a um Congresso especial de teólogos e por fim à Congregação dos cardeais e bispos. O parecer final destes é comunicado ao Papa, a quem compete o direito de decretar o culto público eclesiástico que se há de tributar aos Servos de Deus. A Beatificação portanto, só pode ocorrer após o decreto das virtudes heroicas e da verificação de um milagre atribuído à intercessão daquele Venerável.
O milagre deve ser uma cura inexplicável à luz da ciência e da medicina, consultando inclusive médicos ou cientistas de outras religiões e ateus. Deve ser uma cura perfeita, duradoura e que ocorra rapidamente, em geral de um a dois dias. Comprovado o milagre é expedido um decreto, a partir do qual pode ser marcada a cerimônia de beatificação, que pode ser presidida pelo Papa ou por algum bispo ou cardeal delegado por ele.
Caso a pessoa em causa já tenha o estatuto de beato e seja comprovado mais um milagre pela Igreja Católica, em missa solene o Santo Padre ou um Cardeal por ele delegado declarará aquela pessoa como Santa e digna de ser levada aos altares e receber a mesma veneração em todo o mundo, concluindo assim o processo de Canonização.
Etapas dos processos de Beatificação e Canonização/Santificação na Igreja Católica Apostólica Romana |
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Servo de Deus → Venerável → Beato → Santo |
Colégio de Postuladores |
Em 17 de dezembro de 2007, o Papa Bento XVI, dirigindo-se aos membros do Colégio de Postuladores para as Causas de Beatificação e Canonização da Congregação para as Causas dos Santos, reafirmou que "todos os que trabalham pelas causas do santos (...) estão chamados a pôr-se exclusivamente a serviço da verdade. Por isso, durante a investigação diocesana, as provas testemunhais e documentais devem-se recolher tanto quando são favoráveis como quando são contrárias à santidade, à fama de santidade ou martírio dos Servos de Deus". Considera que por isto "é chave a tarefa dos postuladores, tanto na fase diocesana, como na fase apostólica do processo; uma tarefa que deve ser irrepreensível, inspirada na retidão e encaminhada à probidade absoluta." [4]
No Protestantismo |
Na maioria das Igrejas Protestantes históricas, por não existir qualquer processo de canonização em suas doutrinas, a palavra é usada para significar um compromisso verdadeiro com Deus e seus ensinamentos, ou seja, essa pessoa sabe que é impossível ser perfeita como Jesus foi, mas sabe também que depois de sua conversão, o pecado não deve fazer parte de seus hábitos.
De acordo com o Luteranismo todos os crentes salvos e remidos por Cristo são santos, simultaneamente santos e pecadores, santos em Cristo porque foram salvos e remidos do pecado pela obra salvadora e expiatória de Cristo, e pecadores, pois tendo nascido com o pecado original carregam em sí a natureza pecaminosa.
Os calvinistas usam o termo para referir-se aos crentes escolhidos por Deus que foram predestinados para a vida eterna.
A Igreja Anglicana tem suas raízes na Reforma Protestante, divide-se em "High Church" (Alta Igreja), "Low Church" Igrej Baixaa e "Broad Church" (Igreja Ampla)). Na High Church, usa-se também a designação de Santo, por estar mais próxima do Catolicismo, enquanto a Low Church usa o termo no contexto protestante enquanto a Broad Church também usa-se o termo como ambos os significados simultaneamente católico e protestante.
Em geral, o conceito de santo no protestantismo refere-se a pessoas separadas por Deus que foram salvas e remidas por Cristo por meio da justificação através da Fé e por obra do espírito santo estão em processo de santificação , isto é , estão sendo aperfeiçoadas e como consequência procuram fazer o bem e agradar a Deus, lutando contra os pecados.
A palavra "santo" no hebraico, tem por sentido o ato de "cortar", em grego "separar- separado", "diferenciar- diferenciado". O contexto indica que o crente em Jesus deve levar uma vida separada, diferenciada do atual modelo de vida da cultura vigente. Sua vida deve mostrar diferença quanto aos costumes desta sociedade secularista, e adotar os mesmos procedimentos que Cristo.
No Judaísmo |
A noção mais próxima que se pode obter no judaísmo é a de tzaddik, uma pessoa correcta. O Talmude diz que, em determinada altura, pelo menos 36 tzaddikim vivem entre nós: são anônimos, mas é por causa deles que o mundo não é destruído. O Talmude e a Kabbalah oferecem vários ideais sobre a natureza e o papel destes 36 tzaddikim. Estes personagens possuem o papel de interceder pelos homens.
No Islã |
Existiram, até ao século XX, figuras carismáticas que regulavam os conflitos entre os clãs rivais. Tinham um estatuto especial e, muitas vezes, mágico. Ernest Gellner estudou estas figuras místicas e documentou o seu trabalho num livro chamado "Santos do Atlas".
O sufismo e o shiismo possuem vários santos veneados.
Uso de "Santo" e "São" |
Em português, convencionou-se a utilização do substantivo "santo" para nomes masculinos iniciados por vogal ou a letra H – exemplo, Santo Antônio e Santo Hipólito – e de "são" para nomes iniciados por consoante – exemplo, São Bernardo. As únicas exceções são Santo Tirso, São Tomás – também conhecido como "Santo Tomás" – e Santo Agostinho, também conhecido como "São Agostinho". E também Santo Xisto (Vila Real de Trás-os-Montes), Santo Cristo (Festas do Senhor Santo Cristo nos Açores) e também Santo Deus. Para as santas, usa-se, sempre, "santa".
Os do Antigo Testamento são também santos, mas somente devem ser ditos sob o título "santo" (não na forma apocopada de "são"), independentemente da inicial. Exemplos: Santo Isaías ou Santo Moisés[5].
Referências
↑ FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 548.
↑ Origem da Palavra (25 de março de 2015). «Santo». Consultado em 28 de novembro de 2017
↑ CONCÍLIO VATICANO II (1964). «Lumen Gentium» (n. 40). Santa Sé. Consultado em 6 de Junho de 2009
↑ Vatican Informatio Service, 17.12.2007 - AñoXVII - Num. 217
↑ «Por que os profetas do Antigo Testamento não são canonizados?». padrepauloricardo.org. Consultado em 13 de julho de 2017
Ver também |
- Anjo
- Calendário de santos
- Canonização
- Santificação
- Theosis
- Salvação
- Corpos incorruptos
- Dulia
- Imame
- Anexo:Lista de santos
- Anexo:Lista de santos e beatos católicos
- Messias
- Profeta
- Relíquias
- Santos em carne
- Salvação e Santidade na Doutrina da Igreja Católica
- Comunhão dos santos
Ligações externas |
Const. Apost. Divinus perfectionis Magister (em português)
Congregação para a Causa dos Santos, Normas para a instrução das causas (em português)
Living Miracles: Incorrupt Saints (em inglês)
Chabad: Fé e Ciência (em português)