Reconquista
Nota: Para outros significados, veja Reconquista (desambiguação).
Reconquista | |||||||
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A rendição de Granada por Francisco Pradilla Ortiz | |||||||
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Combatentes | |||||||
Cristãos:
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Líderes e comandantes | |||||||
Reino de Portugal:
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Reconquista é o processo histórico em que os reinos cristãos da Península Ibérica procuraram dominar a região durante o período do Alandalus. Este processo decorreu entre 722 (data provável da Batalha de Covadonga, liderada por Pelágio das Astúrias) e 1492, com a conquista do Reino de Granada pelos reinos cristãos. O controlo progressivo da península ganhou destaque por ter possibilitado a fundação de novos reinos cristãos como o Reino de Portugal e o Reino de Castela, precursores de Portugal e de Espanha.
Houve resistência em várias partes da Península e os muçulmanos não conseguiram ocupar o norte da península Ibérica, onde resistiram muitos refugiados cristãos; aí surgiria Pelágio, que se pôs à frente dos refugiados, iniciando imediatamente um movimento para reconquistar o território perdido. Houve retrocessos, como em Portugal que quase terminou sua Reconquista em 1187, mas o sul foi invadido pelo Califado Almóada do Norte da África ou no século X devido as constantes invasões islâmicas e entre outros, a desunião ibérica favoreceu bastante os muçulmanos.
Os reinos ibéricos eram monarquias feudais, era eficiente para combater incursões muçulmanas e razias mas dificultava o processo de Reconquista devido a desunião dinástica e as guerras feudais. A ocupação das terras conquistadas fazia-se com um cerimonial: cum cornu et albende de rege, isto é, com o toque das trombetas e o estandarte desfraldado.
A ideia de guerra santa, pela cruz cristã, só veio a surgir na época das Cruzadas (1096) e já em 1085, os reinos cristãos já haviam reconquistado mais da metade da Península Ibérica. A reconquista de todo o território peninsular durou cerca de cinco séculos, só ficando concluída em 1491 com a tomada do reino muçulmano de Granada pelos reis Católicos.
Em Portugal, a reconquista terminou antes com a conquista definitiva da cidade de Faro pelas forças de D. Afonso III, em 1249, o extremo sul do país estava completamente despovoado, a população encontrava-se no centro-norte até ao sul de Évora e Santiago do Cacém. O Algarve foi repovoado na segunda metade do século XIII.
Índice
1 O termo "Reconquista": historiografia e tradição
2 Contexto histórico
3 A revolta
4 A oportunidade
5 A cultura militar na Península Ibérica
6 Cavalaria e infantaria
7 As mudanças tecnológicas
8 Os ataques
8.1 Santiago Mata-Mouros
9 Os reinos cristãos
9.1 Portugal na Reconquista
10 Cronologia da Reconquista
11 Ordens religiosas e Cruzadas
12 Fim do domínio árabe
13 Ver também
14 Referências
15 Bibliografia
O termo "Reconquista": historiografia e tradição |
O termo "Reconquista" não é globalmente aceito, uma vez que os reinos cristãos que "reconquistaram" os territórios da Península se constituíram posteriormente à conquista islâmica. Apesar dessas monarquias se autoproclamarem descendentes diretos e herdeiros do antigo reino visigodo, não passaria de um desejo de legitimidade política, bem como uma tentativa dos reinos cristãos justificarem as suas conquistas.[1] No entanto, a Reconquista constituiu um verdadeiro processo restaurativo e libertador para a população cristã (moçárabe) que vivia em Al-Andalus, uma vez que estes eram mais tolerantes às diferentes religiões do que os seus sucessores reinos cristão.
Contexto histórico |
Ver artigo principal: Invasão árabe
Por volta do ano 711 a Península Ibérica foi invadida por soldados berberes, comandadas por Tárique, obrigando os visigodos a recolher-se principalmente na região de Astúrias, uma região no Norte da Península, que, pelas suas características naturais, colocava grandes dificuldades ao domínio muçulmano. Além disso, os muçulmanos podiam contornar essa região pois estavam mais interessados em atravessar os Pirenéus e derrotar os Francos, do outro lado, visto terem como objectivos conquistar todos os territórios à volta do Mediterrâneo, o que acabou por não acontecer, pois foram derrotados pelos Francos.
Assim, o período compreendido entre 711 e 1491 foi marcado, na Península Ibérica, entre outros fatos, pela presença de governantes muçulmanos. Em nome da recuperação da região, ocorreu um longo processo de lutas, considerado por alguns como parte do movimento de cruzadas, resultando finalmente na completa reconquista do território por parte dos cristãos.
Durante esta fase, dá-se o nascimento do Reino de Portugal e de diversos outros reinos na Península Ibérica, tal como o Reino dos Algarves e o Reino de Leão. Enquanto Portugal já em 1168 tinha seus limites muito próximos dos atuais, a unificação da Espanha deu-se de forma gradual; até hoje ainda existem movimentos separatistas.
No século XII, os almorávidas foram substituídos pelo Califado Almóada no extremo Sul do território peninsular. Os almóadas surgiram em Marrocos, descontentes com o insucesso dos almorávidas em revigorar os estados muçulmanos fantoches na Península Ibérica, bem como em suster a reconquista ibérica cristã. Isso porque os reinos cristãos ibéricos, que já haviam reconquistado quase 3/4 da Ibéria no século XII, tinham juntos cerca de sete milhões de habitantes, enquanto o Sul, dominado pelos mouros, tinha uma população muito escassa em comparação.
A revolta |
Antes de 750, os soldados berberes, que se acantonavam nas terras mais ao norte, revoltaram-se contra os árabes: estes eram pouco numerosos e chamaram tropas sírias, que dominaram a revolta. Em 718, Pelágio, chefe dos visigodos, aproveita a desorganização muçulmana e dá início a um processo de reconquista dos territórios hispânicos, que iria durar cerca de seis ou sete séculos.
Não se sabe muito sobre Pelágio: o nome não é gótico: os autores de pequenas crónicas escritas pelo fim do século IX e no X procuram relacioná-lo com os antigos reis visigodos, para estabelecerem uma relação entre os guerrilheiros montanheses e a «restauração» do cristianismo em Espanha. Um escritor árabe coevo diz que se tratava de um galego. Um historiador moderno supõe que seria um servo que se conseguiu impor aos companheiros no período de crise que seguiu a queda da monarquia; um outro considera-o um nativo das Astúrias; outros autores consideram que Pelágio era duque da Cantábria, parente, segundo a tradição, do rei Rodrigo.
Pelágio seria então o chefe daquele heroico grupo de montanheses (ástures e cântabros) que escaparam à dominação árabe da Península, refugiados nas montanhas quase inacessíveis das Astúrias. O domínio muçulmano na Península levava os guerreiros cristãos a porfiadas pelejas, cada um querendo «gizar» um reino para si.
É em 722 que ocorre a primeira grande vitória dos ibero-cristãos contra os mouros, na Batalha de Covadonga; dá-se assim a derrota dos muçulmanos. Alexandre Herculano considera que o ardil de guerra que deu a vitória a Pelágio tem muito de comum com aquele que Viriato pusera por vezes em prática, cerca de novecentos anos antes: ainda que muito a custo, os cavaleiros enviados em cilada para a floresta à esquerda das gargantas de Covadonga, puderam chegar aí sem serem sentidos pelos árabes. Aquando da aproximação dos árabes, os cristãos recuaram e os primeiros, atribuindo ao temor esta fuga simulada, precipitaram-se em sua direcção. Pouco a pouco, o duque da Cantábria atraiu-os para a entrada da gruta de Covadonga. Ao som da trombeta de Pelágio, do cimo dos rochedos surgiram guerreiros que dizimaram os africanos e os renegados godos com tiros e lançando rochedos.
Na batalha de Auseba foram vingados os valentes que pereceram na Batalha de Guadalete, nas margens do Chrysus, com a morte de vinte mil sarracenos.
A oportunidade |
Os cristãos esperavam esses combates na esperança de um avanço na reconquistas cristã, e encontravam nas montanhas das Astúrias um campo propício. Delas desceu um dia um grupo de godos, capitaneados pelo referido Pelágio, que infligiria aos sarracenos uma formidável derrota na batalha de Cangas de Onís (cerca de 722), e que seria o primeiro elo dessa cadeia de combates que, prolongando-se através de quase oito séculos, fez recuar o Alcorão para as praias de África e restituiu a Península ao cristianismo.
Seguiu-se uma prolongada guerra civil, a cerca de 740, em consequência da qual as terras para o norte do Douro ficaram livres, ou quase livres, dos invasores, porque os berberes, que lá estavam, marcharam para o sul para fazer guerra aos árabes. As populações hispano-góticas dessas regiões puderam, então, levantar cabeça e colocaram-se do lado dos cristãos contra esses mouros.
A Galiza foi uma zona onde essa luta foi mais renhida e devastadora. Antes de terminar o século VIII, por efeito do recuo dos mouros, divididos por guerras internas, a Península Ibérica tinha duas zonas, cujo limite passava, aproximadamente, por Coimbra, seguia o curso do Mondego por Talavera, Toledo, Tudela e Pamplona. As populações não estavam submetidas a nenhuma organização definida permanente, a não ser ao clero.
Algumas sés (entre elas as do Porto e Braga) foram abandonadas pelos bispos, mas o culto cristão nunca foi interrompido. Alguns historiadores, entre eles Alexandre Herculano, tomaram à letra algumas frases dos cronicões da reconquista, em especial o atribuído a Sebastião, bispo de Salamanca.
Rezam as crónicas que foi Afonso I (um chefe asturiano) quem reconquistou uma enorme região, que incluía toda a Galiza, o Minho, o Douro e parte da actual Beira Alta, passando os mouros a fio de espada e levando consigo, para norte, todos os cristãos que encontrou no território.
É essa a origem da teoria do ermamento: se todos os mouros foram mortos e todos os cristãos levados, a terra transformou-se num grande deserto, onde a vida social parou e só veio a renascer a partir da sua incorporação nos novos reinos cristãos. Este ponto de vista foi depois corrigido. Os cristãos levados para o norte pode explicar-se pela necessidade de mão-de-obra. E, entre os mortos e os feridos, há sempre alguns que escapam.
A cultura militar na Península Ibérica |
Em situação de constante conflito, a guerra e a vida cotidiana foram fortemente interligados durante este período. Pequenos exércitos, levemente equipados reflete como a sociedade tinha que estar em estado de alerta em todos os momentos. Estas forças são capazes de percorrer grandes distâncias em tempos curtos, permitindo um rápido retorno para casa depois de eliminar e saquear um alvo. As batalhas que tiveram lugar foram, principalmente entre clãs, expulsando exércitos intrusos ou expedições de saque e pilhagem.
No contexto do relativo isolamento da Península Ibérica do resto da Europa, e o contato com a cultura mourisca, as diferenças geográficas e culturais implicava o uso de estratégias militares, táticas e equipamentos que eram marcadamente diferentes daqueles encontrados no restante do Europa Ocidental durante este período.
Os exércitos ibéricos medievais foram compostos principalmente de dois tipos de forças: a cavalaria (principalmente de nobres, mas incluindo os cavaleiros vilões a partir do século X) e a infantaria ou os peões (os camponeses). A infantaria somente iria para a guerra, se era necessário, o que não era comum.
Cavalaria e infantaria |
As táticas ibéricas de cavalaria envolvem os cavaleiros que se aproximavam do inimigo e atirando dardos, antes de retirar-se para uma distância segura, antes de iniciar um outro assalto. Uma vez que a formação dos inimigos estava suficientemente enfraquecidos, os cavaleiros encarregados de empunhar lanças (as lanças pesadas não chegariam a Hispânia até o século XI). Havia três tipos de cavaleiros: os cavaleiros reais, os nobres cavaleiros (os cavalheiros fidalgos) e os cavaleiros plebeus (os cavalheiros vilões). Os cavaleiros reais eram principalmente nobres com uma estreita relação com o rei, e, portanto, reivindicavam uma herança gótica direta.
Os cavaleiros reais foram equipados da mesma maneira como seu antecessores góticos - os braceletes, o escudo pipa, uma espada longa (projetado para lutar a partir do cavalo) e, assim como os dardos e as lanças, um machado de origem gótico similar à francisca dos francos. Os cavaleiros nobres vieram das fileiras dos nobres menores, enquanto os cavaleiros plebeu não eram nobres, mas eram ricos o suficiente para pagar um cavalo. Excepcionalmente, na Europa, esses cavaleiros compreendeu uma força de cavalaria de milícia sem ligações feudais, estando sob o controle exclusivo do rei ou a contagem de Castela por causa das "charters" (ou foros). Os cavaleiros entre nobres e plebeus usavam armaduras de couro e levava dardos, lanças e escudos redondos (influência dos escudos mouriscos), bem como uma espada.
Os peões eram os camponeses que iam para a batalha a serviço de seu senhor feudal. Mal equipados, com arcos e flechas, lanças e espadas curtas, eles eram usados principalmente como as tropas auxiliares. Sua principal função no campo de batalha era conter as tropas inimigas até que a cavalaria chegar e para bloquear a infantaria inimiga de atacar os cavaleiros.
O arco longo, o arco compósito (arco composto ou laminado construído de madeira, osso ou chifre, e tendões de animais) e a besta são os tipos básicos de arcos, e especialmente populares na infantaria. O lançamento de dardos e o tiro com a funda, o arco e a besta era intensamente incentivado pela população. O treino regular era muito importante para qualquer guerreiro.
Normalmente a armadura era feita de couro, com malhas e escamas de ferro; os casacos cheios de cota de malha eram extremamente raros e a barda para os cavalos completamente desconhecido. As proteções para a cabeça consistiu em um capacete com protetor em volta do nariz (influenciado pelos desenhos usados por Vikings que atacaram durante os séculos VIII e IX) e um capacete de cota de malha. Os escudos eram muitas vezes redondos ou em forma de rim, com exceção dos projetos em forma de pipa usados pelos cavaleiros reais. Normalmente, adornado com desenhos geométricos, cruzes ou borlas, escudos eram feitos de madeira e tinha uma capa de couro.
As espadas de aço eram a arma mais comum. A cavalaria usavam as espadas longas de dois gumes, a infantaria usavam as espadas curtas de um gume. As guardas eram reta ou semicircular, mas sempre altamente ornamentados com padrões geométricos. As lanças e dardos eram de até 1,5 metros de comprimento e tinha uma ponta de ferro. O machado de duas lâminas, feito de ferro, e com 30 cm de comprimento e extremamente afiado e possuir uma grande vantagem, foi projetado para ser igualmente útil como uma arma de arremesso ou no combate corpo a corpo. As maças e os martelos não eram comuns, mas alguns espécimes permaneceram, e são pensados para ter sido usado por membros da cavalaria.
Finalmente, os bandos de mercenários foram um fator importante, como muitos reis não tinham soldados suficientes disponíveis. Os escandinavos, os lanceiros flamengos, os cavaleiros francos, os arqueiros montados mouros e a cavalaria ligeira berbere foram os principais tipos de mercenário disponível e utilizado no conflito.
As mudanças tecnológicas |
Este estilo de guerra permaneceu dominante na Península Ibérica até o final do século XI, quando expressa as táticas da lança pesada de cavalaria pesada chegaram da França, embora as técnicas tradicionais de arremessos de dardos com cavalos continuaram a ser usados. Nos séculos XII e XIII, os soldados normalmente carregavam uma espada, uma lança, um dardo, e quer um arco e flechas ou uma besta e virotes/setas. A armadura consistia de uma cota de malha sobre um casaco de couro acolchoado, estendendo-se pelo menos até os joelhos, um elmo ou um capacete de ferro, e as braçadeiras para proteger os braços e os coxetes para as coxas, feitos de couro ou metal.
Os escudos eram redondos ou triangulares, feito de madeira, coberto com couro, e protegido por uma faixa de ferro, os escudos dos cavaleiros e nobres suportaria o emblema de armas da família. Os cavaleiros andava tanto no estilo muçulmano, a la ginete (ou seja, o equivalente a um assento de jóquei moderno), um cinto de estribo curto e joelhos permitidos para um melhor controle e velocidade, ou no estilo francês, a la brida , uma cinta de estribo longo permitiu mais segurança na sela (ou seja, o equivalente ao assento de cavalaria moderna, que é mais seguro) quando atua como uma cavalaria pesada. Os cavalos foram ocasionalmente também equipados com uma cota de malha.
Os ataques |
As razias eram feitas nos lugares onde os saques podiam ser compensadores, e o facto de se repetirem várias vezes mostra que as populações estavam enraizadas. À aproximação dos soldados (umas vezes mouros, outras vezes cristãos), os aldeões faziam como em Coimbra: refugiavam-se nos montes e voltavam depois para construir novas choupanas e continuar as sementeiras. E estas dificuldades iam fortalecendo o poder popular. As condições sociais desta época são pouco conhecidas. Apesar disso, há indicações de conflitos sociais violentos entre os servos e os senhores feudais.
A Crónica Sebastianense e a crónica Albeldense falam-nos de uma revolta de libertinos, isto é, descendentes de antigos escravos. Diz que se revoltaram contra os senhores mas foram vencidos e «reconduzidos à escravidão». Em alguns casos, as populações revoltavam-se após a incorporação dos territórios em que habitavam no domínio cristão. Essas revoltas não eram de carácter religioso: não existem indícios de uma profunda adesão dos povos ao credo islâmico. Mas os «reconquistadores» não aceitavam as organizações dos vizinhos que, entretanto, se tinham enraizado.
Santiago Mata-Mouros |
Ver artigo principal: Santiago Maior
De acordo com outras tradições, Santiago teria aparecido miraculosamente em vários combates travados em Hispânia durante a Reconquista Cristã, sendo a partir de então apelidado de Matamoros (Mata-Mouros). Santiago y cierra España foi desde então o grito de guerra dos exércitos da Península. Santiago era também protector do exército português até à crise de 1383-1385, altura em que o seu brado foi substituído pelo de São Jorge, trazido pelos ingleses contra as hostes espanholas.
Os reinos cristãos |
Ver artigo principal: Tabela cronológica dos reinos da Península Ibérica
O primeiro reino cristão foi o das Astúrias, fundado por Pelágio, e mais tarde o Reino de Leão. Nos princípios do século X, a província de Navarra tornou-se independente, formando o Reino de Navarra.
Os reis ásturo-leoneses foram alargando os domínios cristãos que atingiram o rio Mondego (Afonso III de Leão, e, ao mesmo tempo, iam repovoando terras e reconstruindo igrejas e mosteiros, ficando célebre na parte ocidental o Mosteiro de Guimarães – com grandes propriedades rústicas e muitos castelos por todo o norte do país.
Porém, já no século X, as discórdias entre os chefes cristãos enfraqueceram o reino, e Almançor tomou a ofensiva destruindo Leão, a capital, e reduzindo o reino cristão ao último extremo.
No século XI, Sancho de Pamplona, rei de Navarra, anexou o condado de Castela e, por sua morte, os seus estados foram divididos pelos três filhos, sendo nessa altura os condados de Aragão e de Castela elevados à categoria de reinos. O reino de Castela coube a Fernando I, o Magno, mas este em breve se apoderou também do reino de Leão.
Fernando, rei de Leão e Castela, notabilizou-se na luta contra os muçulmanos recuperando muitas terras, entre as quais Coimbra (1064), alargando assim definitivamente os limites da reconquista até ao Mondego. Este monarca desenvolveu o território entre o Douro e Mondego, o qual aparece designado por Portucale, separadamente dos outros territórios da Galiza, com dois distritos ou condados – Portugal e Coimbra – gozando de autonomia administrativa, com magistrados próprios.
Fernando I, ao falecer (1065), repartiu os seus domínios pelos filhos: Sancho ficou com Castela, Afonso com Leão e Astúrias, e Garcia com a Galiza (e com ele o condado de Portugal), transformado no independente Reino da Galiza. Depois de várias lutas entre os irmãos, morto Sancho e destronado Garcia, Afonso VI de Castela reúne novamente todos os estados de seu pai, tornando-se assim rei de Leão, de Castela e de Galiza.
Afonso VI, aproveitando as lutas entre os principados muçulmanos após a desagregação do califado de Córdova (1031), prosseguiu a guerra contra os infiéis e conquistou Toledo, onde fixou a capital.
Face às vitórias cristãs, os emires pedem auxilio aos Almorávidas da Mauritânia, e estes, vindo à Península, derrotam os exércitos cristãos na Batalha de Zalaca (1086). Porém, a oeste, os nobres galegos e do condado portucalense, tomam Santarém e a seguir Lisboa e Sintra (1093), estendendo assim a reconquista até ao Tejo.
Contudo, em 1110, uma reacção mais forte dos sarracenos trouxe-os de novo até junto de Santarém e após um longo assédio a cidade rendeu-se, diminuindo de extensão o poder dos leoneses. Santarém permanece então no poder dos mouros até ser reconquistada definitivamente por D. Afonso Henriques em 1147.
Acudindo aos apelos de Afonso VI, entre os cavaleiros de além-Pirenéus, vem Raimundo da Borgonha, filho do conde de Borgonha, que casaria com D. Urraca, filha do rei de Leão e recebe deste (1093) o governo de toda a Galiza até ao Tejo. No ano seguinte chega à Península D. Henrique, irmão do Duque de Borgonha e primo de Raimundo, que recebe a mão de D. Teresa, filha ilegítima de Afonso VI e recebe, depois, o governo da província portucalense que fazia parte do Reino da Galiza - terra que seu filho Afonso Henriques (revoltando-se contra ela e o seu padrasto Fernão Peres de Trava) alargou e tornou em reino independente. Assim, a formação do reino de Portugal foi uma frutuosa consequência das cruzadas do Ocidente. O reino da Galiza passou a ser unicamente aquele ao norte do rio Minho, ficando, com o tempo, mais dependente do poder do Reino de Castela — limitada por Leão a Este e por Portugal a Sul, a Galiza assumia assim a sua fronteira e Portugal seria o único a constituir um estado independente do poder castelhano.
Depois de D. Afonso VI de Leão, o último grande reconquistador espanhol até aos Reis Católicos, a reconquista contra o Califado Almóada foi prosseguida pelos reis de Portugal, Castela, Aragão e pelos condes de Barcelona.
Portugal na Reconquista |
D. Afonso Henriques, filho do conde de Portucale, iria revoltar-se contra a sua mãe, conquistando a Independência de Portugal e iniciando a reconquista portuguesa autonomamente. Desde o início do seu reinado, conseguimos documentar as seguintes batalhas:
Reinado | Acontecimento | Local | Ano |
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Afonso Henriques | Fundação do Castelo | Leiria | 1135 |
Afonso Henriques | Batalha de Ourique | Ourique | 1139 |
Afonso Henriques | Tomada do Castelo | Santarém | 1147 |
Afonso Henriques | Conquista de Lisboa | Lisboa | 1147 |
Afonso Henriques | Batalha de Sacavém * | Sacavém | 1147 |
Afonso Henriques | Tomada do Castelo | Almada | 1147 |
Afonso Henriques | Tomada do Castelo | Palmela | 1147 |
Afonso Henriques | Conquista | Alcácer do Sal | 1158 |
Afonso Henriques | Conquista do Castelo de Cera | Tomar | 1159 |
Afonso Henriques | Conquista de Évoramonte | Évoramonte | 1159 |
Afonso Henriques | Conquista de Beja | Beja | 1159 |
Afonso Henriques | Reconquista de Beja | Beja | 1162 |
Afonso Henriques | Conquista de Évora | Évora | 1165 |
Afonso Henriques | Tomada de Serpa | Serpa | 1166 |
Afonso Henriques | Tomada de Moura | Moura | 1166 |
Afonso Henriques | Batalha de Badajoz | Badajoz | 1169 |
Sancho I | Conquista de Alvor | Alvor | 1189 |
Sancho I | Cerco de Silves | Silves | 1189 |
Afonso II | Batalha Navas de Tolosa | Navas de Tolosa | 1212 |
Afonso IV | Batalha do Salado | cádiz | 1340 |
* - Considerada lendária pela historiografia moderna
Cronologia da Reconquista |
Ver artigo principal: Cronologia da Reconquista
Ordens religiosas e Cruzadas |
Todos os reinos ibéricos puderam beneficiar do apoio de várias Ordens Militares, das quais se destacam a Ordem dos Hospitalários e a Ordem dos Templários, ordens de cavalaria militar e religiosa instituídas com o propósito da cristianização[2].
Portugal, especialmente, viria a beneficiar das Cruzadas em trânsito para o Médio Oriente, tendo estas desempenhado um papel importantíssimo na tomada de algumas cidades portuguesas e subsequente expansão, bem como na fundação do próprio Reino de Portugal.
Fim do domínio árabe |
Em 1492, com a conquista do reino de Granada, a Reconquista chegava ao fim. Já os reinos da Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão iniciavam uma relativa unificação ao possuir um único rei (embora mantendo a autonomia económica, administrativa e comercial), que posteriormente recebeu o nome de Espanha. Juntamente com o reino independente de Portugal, debatiam-se estes dois Estados pelas conquistas marítimas. Ainda com o apoio da Igreja, ambos os reis estavam agora de olhos postos no Norte de África, nas praças comerciais de renome, como Ceuta e Tânger, sob o pretexto da cristianização. Caminhava-se, paralelamente, para a fase inicial dos Descobrimentos.
Ver também |
- Reino das Astúrias
História de Portugal e Espanha
- Listas de reis: Astúrias, Galiza, Navarra, Castela, Leão, Aragão, Portugal
- Tabela cronológica dos reinos da Península Ibérica
- Decreto de Alhambra
Referências
↑ Lomax, Derik. «The Reconquest of Spain». Cambrige University Press. doi:10.1017/S0165115300017460
↑ PINHO, António Brandão de (2017). A Cruz da Ordem de Malta nos Brasões Autárquicos Portugueses. Lisboa: Chiado Editora. 426 páginas. Consultado em 28 de agosto de 2017
Bibliografia |
- AFONSO, A. Martins, Curso de história da civilização portuguesa - 8ª ed. - Porto: Porto Editora, [D.L. 1972]
REILLY, Bernard F., Cristãos e muçulmanos: a luta pela Península Ibérica (The contest of Christian and Muslim Spain), trad. Maria José Giesteira - Lisboa, Teorema, 1998 - 327 p. - ISBN 972-695-262-X
SARAIVA, José Hermano, 1919 - História de Portugal - Lisboa : Círculo de Leitores, imp.1981. - 124, [2] p. : il. ; 25 cm. - (Pequena história das grandes nações)
BRITO, Raquel Soeiro [et al.] História de Portugal, Vol I: Antes de Portugal / dir. José Mattoso . - [Lisboa] : Estampa, D.L. 1993-1994. - 8 vols - 567 p. ISBN 972-33-0920-3
- David Nicole, El Cid and the Reconquista: 1050-1492, (Great Britain: Osprey Publishing Limited, 1988)
- Alexander Pierre Bronisch : Reconquista und Heiliger Krieg - die Deutung des Krieges im christlichen Spanien von den Westgoten bis ins frühe 12. Jahrhundert , Münster , Aschendorff , 1998 , ISBN 3-402-05839-1
- Derek William Lomax: Die Reconquista. Die Wiedereroberung Spaniens durch das Christentum. Deutsche Übersetzung durch Holger Fliessbach. Wilhelm Heyne Verlag, München 1980. ISBN 3-453-48067-8
- Philippe Sénac : La frontière et les hommes -(VIIIe - XIIIe siècle) le peuplement musulman au nord de l'Ebre et les débuts de la reconquête aragonaise , Paris , Maisonneuve et Larose , 2000 , ISBN 2-7068-1421-7
- Riley-Smith, Jonathan, The Atlas of the Crusades. Facts On File, Oxford (1991)
- Villegas-Aristizabal, Lucas, 2013, "Revisiting the Anglo-Norman Crusaders’ Failed Attempt to Conquer Lisbon c. 1142’, Portuguese Studies 29:1, pp. 7–20. http://www.jstor.org/stable/10.5699/portstudies.29.1.0007
- Villegas-Aristizabal, Lucas, 2009, "Revisión de las crónicas de Ralph de Diceto y la Gesta regis Ricardi sobre la participación de la flota angevina durante la tercera cruzada en Portugal", Studia historica. Historia medieval 27, pp. 153–70. http://campus.usal.es/~revistas_trabajo/index.php/Studia_H_Historia_Medieval/article/viewFile/7639/7688
- Villegas-Aristizabal, Lucas, 2009, "Anglo-Norman Involvement in the Conquest and Settlement of Tortosa, 1148-1180", Crusades 8, pp. 63–129. http://www.academia.edu/1619392/Anglo-Norman_Intervention_in_the_Conquest_and_Settlement_of_Tortosa_Crusades_8_2009_600_dpi_black_and_white_with_OCR
- Villegas-Aristizabal, Lucas, 2008, "Roger of Tosny’s Adventures in the County of Barcelona’, Nottingham Medieval Studies 52 (2008), pp. 4–16. http://brepols.metapress.com/content/g477033w678l1753/
- Villegas-Aristizabal, Lucas, 2004, "Algunas notas sobre la participación de Rogelio de Tosny en la reconquista ibérica", Estudios Humanísticos 3, pp. 263–74. https://buleria.unileon.es/bitstream/handle/10612/1104/EHH3-10.pdf?sequence=1