Edgar Pêra
Edgar Pêra | |
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Nascimento | 19 de novembro de 1960 (58 anos) Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | português |
Residência | Lisboa |
Ocupação | Cineasta |
IMDb: (inglês) |
Edgar Henrique Clemente Pera (Lisboa, 19 de novembro de 1960) é um cineasta português, para além de escritor, autor de bandas desenhadas e artista plástico transmedia.
Biografia |
Edgar Pêra é autor de trabalhos para cinema, televisão, internet, livros, espectáculos, galerias e museus, retratando temas como o trabalho, o tempo, a liberdade, a realidade e a alienação e debruçando-se sobre a vida e/ou obra de pensadores e artistas como Agostinho da Silva, Alberto Pimenta, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, António Pedro, Carlos Paredes, Dead Combo, Nuno Rebelo, Fernando Pessoa, H.P.Lovecraft, Madredeus, Paulo Varela Gomes, Maria Isabel Barreno, Rudy Rucker, Robert Anton Wilson, Souto Moura, Terence Mckenna, Pedro Ayres Magalhães, Ney Matogrosso, Legendary Tigerman e Manuel Rodrigues.
Após a revolução de 25 de Abril de 1974 Edgar Pêra envolve-se ativamente nos movimentos sociais, deslocando posteriormente os seus interesses para a cinefilia militante. Abandona o 4º ano do curso de Psicologia da Faculdade de Letras, depois de ingressar na Escola de Cinema do Conservatório Nacional (actual Escola Superior de Teatro e Cinema) em 1981, especializando-se na área de montagem em 1984. Durante os tempos da Escola de Cinema cria o Movimento Neuro-Realista com o cineasta Manuel Mozos e inicia o seu trabalho como argumentista. Colabora na escrita, com Manuel João Gomes, do filme Repórter X, de José Nascimento.
Em 1985, inspirado no gesto fundador de DzigaVertov, assume a persona do Homem-Kâmara filmando compulsivamente o seu quotidiano e o de bandas pop portuguesas com quem convivia. Dessa colaboração nascem videoclips e filmes musicais televisivos com os GNR, Heróis do Mar, Xutos & Pontapés, Sétima Legião, Rádio Macau e Rodas Aéreas. O seu primeiro trabalho público é o videoclip "Dunas" para o grupo GNR, evidenciando desde já a tendência para combinar desde diferentes suportes fílmicos (neste caso, imagens vídeo VHS com película 16 mm reversível).
Na segunda metade da década de 1980, Pêra escreve noticiários e ficções para a rádio (RUT - Rádio Universidade Tejo e Rádio Gest - Rádio Comercial) e assina recensões, crónicas visuais, “bandas gráficas” e manifestos Neuropunks para o jornal O Independente e a revista K, ambos dirigidos pelo escritor Miguel Esteves Cardoso. Para o jornal Diário Popular cria, conjuntamente com Pedro Ayres Magalhães e Pedro Bidarra, "A Invasão" - uma página de antecipação especulativa humorística. Trabalha também em agências de publicidade na escrita e pós-produção audio. É nessa época cria outra cine-persona, o sonoplasta Artur Cyanetto, o autor das suas bandas sonoras mais radicais.
Em 1989 filma o primeiro vídeo do grupo Madredeus e funda a Sociedade Neuro-Escatológica de Moscavide, que produziu entre outros filmes, Matadouro e Os Sobreviventes (ou Subviventes). Este último, rodado nas ruínas resultantes do incêndio do Chiado, um cenário apocalíptico onde Pêra regressará incessantes vezes para filmar.
Em 1990 ganha o prémio do jornal Sete - Carreira na área de vídeo e o prémio copy da RTC. Estreia no Fantasporto a sua primeira curta-metragem para cinema - Reproduta Interdita. Nesse mesmo ano há ainda a assinalar a terceira incursão de Pêra nas artes plásticas: inaugura no Centro Cultural Emmerico Nunes uma exposição de videofotografias e uma instalação multimedia (Cinerock - Movimento da Pedra), encerrando o evento com um cine-concerto musicado por Tiago Lopes (Golpe de Estado).
Em 1991 assina A Cidade de Cassiano (Grand Prix Films D’architecture do festival de cinema de Bordeaux) para a exposição dedicada ao arquiteto modernista Cassiano Branco. Para além das curtas-metragens Matadouro e Guerra ou Paz? inaugura VideoKorporis, uma instalação vídeo no Palácio Anjos, em Algés. Segue-se uma encomenda para o canal franco-alemão ARTE “O Trabalho Liberta? ” (prix Essai Festival Film D’Art Paris - Centre Pompidou,1993) e o filme SWK4, outra encomenda, para a comemoração do centenário de Almada Negreiros no CCB, . É com a exibição deste filme no Fantasporto que se inicia a rutura de Pêra com os consensos. É também o primeiro trabalho do cineasta com atores profissionais.
Em 1994 assina a sua primeira longa-metragem, Manual de Evasão LX94, uma encomenda de Lisboa Capital Europeia da Cultura. É o seu filme mais polémico (à excepção de Cinesapiens, que dividiu ainda mais a crítica), articulando uma estética herdada do cinema mudo e da "comédia à portuguesa": cenas burlescas com actores (Duarte Barrilaro Ruas, Manuel João Vieira, José Wallenstein, Anabela Teixeira, Ana Bustorff e João Reis) intercaladas com discursos sobre o tempo de três escritores alterantivos californianos (Terence Mckenna, Robert Anton Wilson e Rudy Rucker).
Em 1996 funda com o escritor Manuel Rodrigues, a Akademya Luzoh-Galáktika, espaço trans-media de aprendizagem, situado nos Ateliers de S.Paulo, em pleno bairro da Bica. Até ao final do século XX sairão dessa Akademya cine-concertos, instalações (, vídeos e filmes de pequeno formato, para além da longa-metragem A Janela (Maryalva Mix), estreada no Festival Internacional de Locarno de 2001. Em paralelo com a sua actividade cinematográfica, Pêra vai exibindo as suas vídeo-instalações, como por exemplo Aerokomix, protagonizada pelos ícones da banda desenhada norte-amercana, Art Spiegelman e Will Eisner.
Ao entrarmos no século XXI, assistimos a uma inflexão no trabalho de Pêra, aliando â montagem plástica uma componente emocional (O Homem-Teatro e Oito Oito, ambos de 2001). Interessando-se cada vez mais pelos espectáculos ao vivo, Pêra cria a Kompanhya do Accident e muda o seu estúdio para o Espaço Gingal em Cacilhas, a convite do colectivo O Olho, coordenado pelo encenador e artista plástico João Garcia Miguel. Dessa colaboração nascerão múltiplas obras em diferentes media, entre as quais o tele-espectáculo/longa-metragem Champô Chaimite/A Saga dos Homens-Toupeira (estreado no Fantasporto 2003), a instalação A Porta, baseada no I Ching, e a cine-performance Fiquem Com a Cultura Que Eu Fico com o Brasil em colaboração com o poeta Alberto Pimenta.
Em 2004 assina És A Nossa Fé, um filme sobre a emoção dos adeptos de futebol do Sporting e do Leixões. Ainda nesse ano Pêra é convidado por Natxo Checa para uma residência artística quinquenal na Galeria ZDB, onde realiza uma série de instalações (Keep Mooving, Neuroh-Evazão, ) e cine-concertos em colaboração com João Lima, Anarchica Nuvolari, Tó Trips, Lydia Lunch e Vítor Rua, entre outros. Tem a sua primeira grande retrospetiva fora de Portugal, em Amsterdão, no World Wide Video Festival, onde apresenta o cine-espectáculo Sudwestern, com música dos Dead Combo.
Em 2006 estreia Movimentos Perpétuos - Cine-Tributo a Carlos Paredes no festival Indie Lisboa (arrecadando o prémio do Público, melhor fotografia e melhor filme). Nessa mesma edição do Indie é homenageado como "Herói Independente". O programador e crítico Olaf Möller escreveu para o catálogo da retrospectiva: " Quando nos questionamos, ‘Como é possível que um excepcional (e neste caso jovem) cineasta pouco seja conhecido fora do seu país?’, a resposta é, invariavelmente, a mesma: ‘Não se enquadra por ser demasiado diferente.’ E demasiado diferente de quê? No caso de Edgar Pêra, pode dizer-se ‘demasiado diferente de tudo aquilo que hoje em dia se entende por ‘certo’, ‘real, em termos cinematográficos’ ou‘realista, em termos cine sócio políticos’’. Em termos mais concretos, Edgar Pêra é diferente de tudo o resto que conhecemos de Portugal."
Em Outubro de 2006 recebe em Paris, o prémio Pasolini, juntamente com Alejandro Jodorowsky e Fernando Arrabal. Assina no jornal O Público bandas desenhadas com entrevistas a autores de bd e cinema, como Alexander Zograf, Maurício de Sousa e Amos Gitai.
Em 2007 estreia no Indie Lisboa Rio Turvo, uma adaptação do conto homónimo de Branquinho da Fonseca e em 2011 estreia no Festival de Cinema de Roterdão O Barão - nova adaptação de Branquinho, protagonizada pelo ator Nuno Melo. Nesse ano começa a fotografar e filmar diariamente em 3D, acrescentando uma nova dimensão à persona do Homem-Kâmara. O resultado é a sua primeira curta-metragem 3D Horror in the Red District (Documental Prologue), que estreou no festival Doc Lisboa em 2D mas que nunca chegou a ser vista em salas de cinema na sua versão tridimensional.
Em 2013 assina Cinesapiens, um segmento do filme 3D antológico 3X3D (com a participação de Jean-Luc Godard e Peter Greenaway) que encerra a Semana da Crítica do Festival de Cannes.
Em 2014 continua a sua pesquisa no formato 3D com a curta-metragem Stillness, estreada no festival de Oberhausen e a longa-metragem Lisbon Revisited, com textos de Fernando Pessoa, estreada no Festival de Cinema de Locarno. Estreia no mesmo ano a comédia pop Virados do Avesso, o seu primeiro sucesso comercial em Portugal (116.000 espectadores) e realiza um cine-concerto em Lisboa com António Victorino D’Almeida.
Depois das retrospectivas em Reus (2000), Cork (2011) e Seoul (2014), a Fundação de Serralves dedicou-lhe em 2016 a mais extensa retrospectiva da sua obra fílmica, plástica e gráfica, com curadoria de António Preto. Nesse mesmo ano inaugura em Lisboa a sua primeira exposição estereoscópica Lisboa Revisitada (fotografias e instalações vídeo 3D) e estreia no Festival de Cinema de Roterdão, O Espectador Espantado, uma investigação 3D sobre o acto de ver cinema, fruto da sua tese de doutoramento.
Em 2017 estreia Delírio em Las Vedras – Aventuras no Carnaval de Torres Vedras (3D) no Festival de Cinema de Roterdão e inaugura a video-instalação Delírio em Santa Cruz na segunda temporada sua exposição retrospectiva de Serralves, desta vez em Torres Vedras.
Em 2018 estreou no IndieLisboa O Homem-Pykante - Diálogos Kom Pimenta, uma longa-metragem sobre o poeta, artista, ensáista professor e performer Alberto Pimenta.
A estrear em 2018: a série de 13 curtas-metragens Arquivos Kino-Pop, baseada nos seus arquivos pessoais e a longa-metragem Caminhos Magnéticos, baseada na obra de Branquinho da Fonseca e protagonizada por Dominique Pinon e Ney Matogrosso, e em 2019 o filme e cine-concerto Lovecraftland (com Legendary Tigerman) sobre a obra do escritor Howard Philips Lovecraft.
Filmografia |
Reproduta Interdita (1988-90)
A Cidade de Cassiano (1991)- Matadouro (1992)
O Trabalho Liberta? (1993)- Guerra Ou Paz? (1993)
SWK4 (1993)
Manual de Evasão LX94 (1994)
O Mundo Desbotado (1995)
Who Is The Master Who Makes The Grass Green? (1996)- A Konspyração dos 1000 Tympanus (1997)
As Dezaventuras do homem-Kâmara Epizohdyus 113 &115 (1998)
Eskynas Agudas (1999)
25 de Abril Aventura para a Demokracia (2000)
A Janela (Maryalva Mix) (2001)
O Homem-Teatro (2001)
88 (2001)- Fiquem Qom a Qultura, eu fiko kom o Brazil (2002)
Os Homens-Toupeira (2003)
És a Nossa Fé (2004)
Stadium (Phantas-Mix) (2005)
Movimentos Perpétuos: Cine-Tributo a Carlos Paredes (2006)
Impending Doom (2006)
Rio Turvo (2007)
Arquitectura de Peso (2007)- Crime Abismo Azul Remorso Físico (2009)
Avant La Corrida (2009)
Punk Is Not Daddy (2010)
O Barão (2011)
Horror in the Red District (Documental Prologue) (2011)
One Way or Another (Reflexions of a Psykokiller) (2012)
Visões de Madredeus (2012)
Cinesapiens - segmento de 3X3D - com Jean-Luc Godard e Peter Greenaway (3D, 2013)
Stillness (3D, 2014)
Lisbon Revisited (3D, 2014)
Virados do Avesso (2014)
A Caverna/ The Cavern (3D, 2015)
O Espectador Espantado (3D, 2016)- Delírio em Las Vedras (2016)
- Visões Virtuais (2016)
- Delírio em Santa Cruz (2016)
- O Homem-Pykante - Diálogos Kom Pimenta (2018)
- Caminhos Magnéticos (2018)