Cefeida
Uma estrela Cefeida é uma estrela gigante ou supergigante amarela, de 4 a 15 vezes mais massiva e de 100 a 30 000 vezes mais brilhante que o Sol. A luminosidade desse tipo de estrela varia de 0,1 a 2 magnitudes em um período bem definido, compreendido entre 1 e 100 dias. Pertence à classe de estrela variável pulsante e ocupa a chamada "faixa de instabilidade" do diagrama de Hertzsprung-Russel. O nome "cefeida" vem do protótipo de estrela δ (delta) da constelação de Cepheus. Ela tem um papel importante na determinação de distâncias extragaláticas.
Índice
1 História
2 Como surgem as estrelas Cefeidas
3 Pulsação das estrelas Cefeidas
4 Tipos de estrelas Cefeidas
4.1 Tipo I
4.2 Tipo II
5 Identificação de estrelas Cefeidas
6 Papel no cálculo das distâncias
6.1 Relação período-luminosidade
7 Ver também
8 Referências
História |
Em 1595, um pastor luterano e um astrônomo amador, observando a estrela o Ceti, pertencente à constelação Cetus (Baleia), perceberam que, durante algum tempo, ela não era visível no céu, mas depois voltava a aparecer (por isso ela recebeu o nome de Mira - “maravilhoso” em latim). Esse fato ocorre porque a magnitude dessa estrela varia de 2 a 10 (o olho humano não enxerga magnitudes acima de 6) e o telescópio só foi inventado em 1608. Por volta de 1660, seu período de 11 meses foi estabelecido. Na época, acreditava-se que seu brilho oscilava porque manchas escuras em sua superfície às vezes ficavam voltadas para a Terra. Hoje se sabe que, na verdade, Mira é uma estrela binária composta por uma estrela pulsante irregular de longo período (100 - 700 dias) e por uma anã branca.
Mais de um século se passou e uma outra estrela pulsante foi descoberta em 1784, a chamada Delta Cephei. Sua magnitude varia, aproximadamente, de 2 a 3, com período de 5,37 dias. Essa estrela é o protótipo da classe de estrelas chamada “Cefeidas clássicas” de importância fundamental na Astronomia.
Até 2008, já foram catalogadas acima de 46 mil estrelas variáveis - mais de 5% delas pela astrônoma Henrietta Swan Leavitt.[1] Nascida em 1868, teve formação em artes, filosofia, geometria analítica, cálculo e astronomia (concluindo essa matéria com nota máxima). Em 1893, um ano depois de formada, começou a trabalhar voluntariamente no Observatório de Harvard e foi logo contratada pelo astrônomo Edward Pickering para catalogar e calcular o brilho (magnitude aparente) das estrelas das placas fotográficas, de determinadas regiões do espaço. Era um trabalho que exigia muita concentração, cuidado e paciência, pois o brilho das estrelas aparecia na placa fotográfica como pontos escuros (quanto maior o ponto maior o brilho) e era calculado a partir de comparações entre pontos de estrelas próximas (da mesma foto) em que o brilho já era conhecido. Cada observação era escrita a mão numa tabela numerada sequencialmente. Como ela era extremamente dedicada ao seu trabalho, ela foi designada por Pickering para a tarefa de destacar possíveis estrelas variáveis, anotar a posição delas na chapa e computar seus brilhos. A posição era determinada atribuindo-se uma escala às fotos e a variação do brilho era determinada superpondo-se o negativo e o positivo de duas chapas da mesma região do espaço, mas obtidas em dias diferentes. Se uma anulasse a outra, não havia variação.
Por uma viagem à Europa e por problemas pessoais e de saúde foi afastada de Harvard em 1896, retornando como funcionária permanente em 1903. Analisando placas fotográficas das Nuvens de Magalhães descobriu muitas estrelas variáveis e em 1908 publicou "1777 Variables in the Magellenic Cloud[2]", onde, além de listar as estrelas variáveis que observou, também estimou suas variações de magnitude aparente e seus períodos. Nesse trabalho, ela foi capaz de perceber um padrão entre esses dois fatores: a luminosidade e o período.
A relação luminosidade-período só foi confirmada em 1912, após serem reunidos uma quantidade maior de dados em um trabalho[3] escrito por Pickering, mas desenvolvido por Henrietta. Utilizando dados de estrelas da pequena Nuvem de Magalhães e considerando que as distâncias delas à Terra era, aproximadamente, a mesma, as variações nas magnitudes aparentes se davam, então, por causa de uma variação intrínseca às estrelas (magnitude absoluta), confirmando a relação entre luminosidade (magnitude absoluta) e período. Essa relação fornecia a inclinação do gráfico da magnitude absoluta pelo logaritmo do período, o que faltava agora era conhecer algum ponto dele, ou seja, encontrar pelo menos alguma estrela variável cujo período, distância e luminosidade eram conhecidos. Isso foi feito no ano seguinte pelo astrônomo e químico Ejnar Hertzsprung com uma técnica de medida de paralaxe que usa o movimento anual do Sol pela Via Láctea, pois a estrela variável mais próxima estava a 200 parsec e essa distância não era possível de ser medida por paralaxe simples com os telescópios da época.
Após a relação luminosidade-período ser calibrada, medindo-se o período de uma estrela variável, extraindo a informação da sua luminosidade (magnitude absoluta) e medindo o seu brilho (magnitude aparente) podemos calcular a distância até essa estrela. Hoje em dia, com telescópios mais avançados, podemos chegar até a distância de 50Mpc (50 milhões de parsecs) com essa técnica maravilhosa e incrível de se medir distâncias no espaço sem sair do nosso planeta, devemos boa parte disso a dedicação e esforço da Henrietta Swan Leavitt.
Como surgem as estrelas Cefeidas |
Como o universo possui uma infinidade de estrelas, praticamente todas as suas diversas fases de vida podem ser observadas. Com as informações de luminosidade (radiação que escapa da estrela) e temperatura inferidas de cada estrela, foi feito, aproximadamente em 1910, o diagrama HR (Hertzsprung-Russel). A temperatura efetiva (da superfície da estrela), obtida através do espectro, classifica a estrela de O (mais quente) até A (menos quente). A observação dessa relação entre a luminosidade e temperatura de diversas estrelas forneceu poderosos indícios para o desenvolvimento de como as estrelas brilham.
Após estudos sobre como uma estrela evolui, percebeu-se que, além de suas diversas fases, esse diagrama permite visualizar sua evolução. A grande maioria das estrelas passa a vida na faixa chamada sequência principal (main sequence), tempo que depende da taxa de fusão nuclear. O Sol e mais de 91% das estrelas próximas do sistema solar pertencem a essa faixa. Ela se estende do canto superior esquerdo, com estrelas mais brilhantes e mais quentes (azuladas), até o canto inferior direito, com estrelas menos quentes e menos brilhantes (chamadas anãs vermelhas).
Quanto maior a massa de uma estrela, maior sua força gravitacional, o que implica uma maior pressão (associada à temperatura) para mantê-la coesa. Uma temperatura maior envolve uma taxa de fusão nuclear maior e mais radiação liberada. A luminosidade de uma estrela depende não só da radiação produzida, mas também de sua opacidade (capacidade de armazenar radiação, portanto de aumentar a pressão). Pode-se deduzir, então, que o tempo que uma estrela passa na sequência principal é dado pela relação entre sua massa e luminosidade.
Quando a estrela já fez, no núcleo, a fusão de todo o hidrogênio que podia, ela começa a fazer a fusão do hélio e sai da sequência principal. Após alguns processos e, por último, o chamado helium flash, essa estrela pode virar uma estrela pulsante Cefeida, RR Lyrae ou outros tipos, dependendo da sua massa. Essas estrelas ocupam a chamada faixa de instabilidade do diagrama HR (instability strip), sendo que as Cefeidas ocupam, basicamente, a parte superior e as RR Lyrae, a inferior.
Pulsação das estrelas Cefeidas |
As estrelas Cefeidas são estrelas pulsantes radiais, isto é, a estrela aumenta e diminui de tamanho periodicamente. Uma pulsação é sempre caracterizada por um desbalanceamento que provoca algum fenômeno e por um mecanismo restaurador que leva o sistema para o estado anterior. Nas pulsantes radiais, ou seja, nas estrelas Cefeidas, tem-se que a força motriz é a energia interna da estrela (pressão de radiação) e a força restauradora é a força gravitacional.
Em mais detalhes, quando esse tipo de estrela está em processo de expansão, sua temperatura começa a diminuir e, assim, a taxa de ionização também começa a diminuir. Com isso, o gás fica mais "transparente" e a emissão de radiação aumenta (jogando essa energia para fora da estrela). Essa perda de energia inicia o resfriamento da estrela (diminuindo a pressão de radiação), o que por sua vez faz com que a estrela comece a contrair. Desse modo, sua temperatura começa a aumentar, o gás começa a ficar mais opaco e a radiação mais presa (o livre caminho médio da radiação diminui) e a pressão de radiação começa a aumentar novamente e o processo se repete.
O período de variação de brilho de uma cefeida representa aproximadamente duas vezes o tempo necessário a uma onda de pressão para se propagar do centro da estrela à sua superfície; ele depende do estado do meio atravessado pela onda e constitui por isso uma fonte preciosa de informações sobre a estrutura interna da estrela.
Tipos de estrelas Cefeidas |
Há dois tipos de estrelas Cefeidas:
Tipo I |
- Também conhecidas como Cefeidas Clássicas.
- Estrelas pertencentes à População I.
- Mais novas, massivas, bem luminosas, metalicidade maior.
- Períodos de meses a dias.
Tipo II |
- Também conhecidas como Cefeidas W Virginis.
- Estrelas pertencentes à População II.
- Mais velhas que a do tipo I, menos massivas, menos luminosas, metalicidade menor.
- Períodos semelhantes aos das do tipo I.
Identificação de estrelas Cefeidas |
Para identificar e classificar (tipo I ou tipo II) uma estrela é necessário o uso do espectro e da curva de luz dessa estrela. Por meio do espectro descobre-se se a variação de seu brilho é devida a um sistema binário de estrelas ou se é por causa de variações da pressão de radiação (pulsações). Além disso também classifica-se essa estrela no diagrama HR. Com a curva de luz (gráfico da intensidade luminosa - de uma certa faixa de frequência - pelo tempo) é possível diferenciá-la entre tipo I e tipo II. A parte da curva de luz da diminuição da luminosidade da Cefeida do tipo II é mais inclinada do que a do tipo I.
Papel no cálculo das distâncias |
Relação período-luminosidade |
A relação empírica entre o período de uma cefeida, P{displaystyle P} (em dias), e sua magnitude absoluta Mv{displaystyle M_{v}} é dada por
- Mv=−2,76log(P)−1,4{displaystyle M_{v}=-2,76log(P)-1,4,}
Essa relação é derivada de dados coletados de Cefeidas cujas distâncias foram determinadas por outros métodos.
As cefeidas têm um papel muito importante como padrões de medidas de distância no Universo graças à relação período-luminosidade que as caracteriza: quanto mais luminosa for uma cefeida, maior será seu período de variação de brilho, pois quanto maior o volume da estrela maior será o trajeto que as ondas de pressão deverão percorrer.
A partir do momento que se conhece o período de uma cefeida, facilmente mensurável, a relação período-luminosidade permite determinar a luminosidade intrínseca dessa estrela. Por uma simples comparação com sua luminosidade aparente, deduz-se sua distância, e com isso a distância da galáxia onde ela se localiza.
Extremamente brilhantes, logo visíveis de longe, as cefeidas são detectadas atualmente em outras galáxias até a distância de 80 milhões de anos-luz graças ao telescópio espacial Hubble. A determinação dessas distâncias é essencial para o cálculo do valor da constante de Hubble, que mede o ritmo de expansão do Universo. O ponto delicado reside na classificação absoluta da relação período-luminosidade, que necessita determinar independentemente de maneira exata a distância de ao menos algumas cefeidas situadas na nossa galáxia.
Além disso, deve-se ter em conta que, ao se determinar a luminosidade de uma cefeida a partir da relação período-luminosidade, deve-se saber que as galáxias, e logo as cefeidas que elas contêm, não são idênticas, mas diferentes pela sua composição química. Foi o que se constatou ao longo dos últimos anos com a análise de grande número de cefeidas detectadas em duas galáxias vizinhas, as Nuvens de Magalhães.
Ver também |
- Variável RR Lyrae
Referências
↑ Vídeo no YouTube: Henrietta leavitt: Unsung heroine in science.
↑ Leavitt, Henrietta S. (1908). "1777 variables in the Magellanic Clouds".Annals of Harvard College Observatory 60: 87–108.Bibcode:1908AnHar..60...87L.
↑ Henrietta S Leavitt and Edward C Pickering. Periods of 25 variable stars in the small magellanic cloud. Harvard College Observatory Circular, 173:1–3, 1912